quarta-feira, 12 de setembro de 2007

50 cent Vs. Kanye West - mais uma "guerra" no hip-POP (por Neguinho Atento)

A tradução da foto acima é simplesmente "... E VEJA O DINHEIRO EMPILHANDO"

Os três personagens da foto acima são notórios conhecidos dos que curtem rap. Da esquerda pra direita: Kanye West, P. Diddy e Curtis Jackson, famoso 50 Cent.
E por que escolhi essa foto pra começar minha coluna? Simples: para mostrar as contradições de uma guerra fabricada no intuito de arrastar milhões de dólares para empresários multi-milionários como este que está no meio: P. Diddy.


Há cerca de cinco meses atrás os rappers Kanye West e 50 Cent deram início a mais um capítulo das desavenças no rap norte-americano. Trocas de farpas constantes entre os dois agitaram os fãs desse estilo musical. Pesquisando por vários fóruns de hip-hop nos EUA e no mundo percebi que as trocas de ofensas entre os dois rappers promoviam verdadeiras batalhas virtuais entre os fãs tanto de um quanto de outro. Uma verdadeira baixaria. Alguns mais espertos desconfiavam dessa briga entre os dois rappers. Cogitou-se que seria uma jogada de marketing para aquecer as vendas.A cada entrevista a situação parecia piorar: vieram os insultos.

De um lado, Kanye West, rapper e produtor musical de Chicago. Filho de um ex-Pantera Negra (grupo revolucionário negro que promovia o fim da violencia racial nos guetos norte-americanos), Kanye teve uma vida tranquila. Estudou arte e surgiu para o rap em 2004. Com dois albuns lançados (College Dropout, 2004 e Late Registration, 2005) a maioria de suas letras questionam a lógica do mercado sobre o talento no hip-hop, além de questionar a lógica do estilo de vida americano que força os jovens a perpetuarem essa lógica (os títulos de seus albuns demonstram isso: "Abandono de faculdade, 2004" e "Matrícula atrasada, 2005"). Kanye ficou ainda mais conhecido quando, em plena crise do furacão Katrina, fez uma declaração ao vivo acusando o Governo Bush de racista por omitir socorro às vítimas do furacão, em sua maioria negros em situação de pobreza.

Já Curtis Jackson, mais famoso como 50 Cent, nasceu no bairro do Queens em Nova-Iorque, onde começou a traficar drogas ainda aos 12 anos, durante a tática do FBI de infiltrar drogas pesadas nos guetos americanos afim de anular os movimentos de resistência negras e latinas nos anos 1970/80. Em 2002, após tomar 9 tiros dos quais se orgulha muito, 50 cent lançou um mixtape (coleção de músicas sampleadas e cantadas de forma independente copiadas para uma fita ou cd) intitulado Guess who's back (adivinha quem tá de volta). Tal trabalho chamou logo a atenção de dois produtores de peso no mundo do rap: Eminem e Dr. Dre, que logo os projetou como um sucesso comercial no rap com os álbuns Get Rich or die trying (Fique rico ou morra tentando), 2003 e The Massacre (O massacre), 2005.


Pois bem, os dois resolvem lançar seus respectivos albums justamente nesse dia 11 de Setembro, data triste e simbólica para o povo americano, vítima das medidas autoritárias de seu proprio governo. E 50 Cent declara publicamente em várias entrevistas que se ele vender menos do que o "rival" Kanye ele se sentiria tão humilhado que abandonaria a carreira de rapper. Será? Pena que não!


No meio de tudo isso, um "senhor" multi-milionário já acostumado a ganhar tubos de dinheiro a custas de desentendimentos fabricados: P. Diddy. Sim, esse gentleman de araque que está aí no meio. Dono de uma grife de street-wear caríssima com top-models que desfilam pra ele (Naomi Campbell e Paris Hilton inclusas); dono da gravadora Bad Boy e dono de um invejável patrimônio de vários milhões de dolares. P. Diddy parece gostar de ganhar dinheiro assim, pois ergueu seu patrimonio durante a guerra entre seu pupilo Notorious BIG e seu desafeto Tupac. Os dois talentosos e questionadores rappers morreram assassinados vítimas do conto do vigário de P. Diddy. E olhem quem está bem na foto novamente: ele mesmo!

Enquanto a massa adormecida de fãs discutem quem dos dois é melhor, a foto acima mostra que nenhum deles estão preocupados com outra coisa a não ser o lucro. Pior para Kanye, que perdeu minha admiração por tentar fazer seu público de "trouxa" e se rebaixar ao nível de 50 cent de fazer joguinhos de marketing para garantir divisas astronômicas.

Será esse o único caminho para o rap de mercado? Será que não percebem que estão se esgotando em seu conteúdo e apostando mais nas batidas que aquecem as pistas de dança faturando milhões? Enquanto isso os nostálgicos que um dia viram na cultura hip-hop uma resistência contra o mercado (que estigmatiza negros, latinos e árabes a cada dia) agora são obrigados a ver muitos de seus expoentes mudando de postura como quem muda de corrente de ouro, roupas de grife e mulheres gostosas.

Ainda bem que existem aqueles que ainda resistem. Ainda bem que o nosso rap ainda não caiu nessa armadilha do mercado, pois aqui as ruas estão em contato direto com os rappers. Um contato saudável que permite uma cobrança direta dos oprimidos com seus porta-vozes. No dia que o mercado tirar os rappers brasileiros das ruas e colocá-los em mansões luxuosíssimas e lhes darem carros importados, podem ter certeza: repetiremos o vazio que nossos irmãos norte-americanos propagam nos microfones.

por: Neguinho Atento